Senhor,
De quantos Natais ainda necessitaremos
Para lembrarmos que a fraternidade
Deve ser vivificada em todos os dias do ano?
Senhor,
De quantos Natais ainda necessitaremos
Para compreendermos que o teu nascimento
Deve ser celebrado a cada momento?
Já que nos ensinaste a devestirmo-nos
Diariamente do homem velho
Que nos habita e nos aprisiona Senhor
,De quantos Natais ainda necessitaremos
Para trocarmos abraços descompromissados?
E sermos mansidão e doçura
Sem datas quaisquer marcadasPelo calendário que criamos
E com o qual regemos nossas emoções
Como se o amor fosse um sentimento sazonal Senhor,
De quantos Natais ainda necessitaremos
Para transformarmos em gestos e atitudes
As palavras que tão facilmente proferimos
Nesta época do ano
Quando falamos em solidariedade e perdão?
Tantas coisas que não entendo,
Senhor...
Talvez por isto, não saiba escrever sobre o Natal
Por que será, Senhor
Que dissertamos com tanta facilidade
Sobre a violência nas ruas
E não conseguimos reconhecer
A fúria que há dentro de nós
Quando nos sentimos atingidos
Em nossa vaidade pessoal?
Por que será, Senhor
Que suplicamos tanto pela paz no mundo
Se no dentro de nós
Superestimamos a pequena ofensa, a ira desmedida
Cravando os dedos da intolerância
Com os que estão mais próximos de nós?
Por que será, Senhor
Que nos permitimos perder o fôlego
Sufocando o sopro de vida
De todos os teus ensinamentos
Que nos desejam unidos em plena harmonia?
Ah, Senhor
Por que precisamos ainda recorrer a datas
Para nos reconhecermos irmãos
Para praticarmos a caridade
Se todos os dias a vida nos é ofertada
Como presente único e divino?
Senhor,
Resta-nos agradecer a Tua paciência para conosco
O Teu amor infinito e incondicional
Mesmo que nem sempre
Saibamos como Te escutarPorque quando conversamos contigo
Distraídos em nossos tantos pedidos
Não ouvimos Tua Voz a nos responder
Acariciando nossas dúvidas, dores
E todas as angústias que nos fragilizam
Nestes dias que antecedem
A celebração do Teu nascimento
Talvez andes a nos dizer baixinho
Em Tuas preces sobre todos nós
Que Teu maior presente
Seria que o Natal acontecesse todos os dias
Nos corações dos teus amados filhos.
Fernanda Guimarães
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